
Como usinas de cana-de-açúcar estão impulsionando a regeneração com biometano
As usinas de cana-de-açúcar estão no centro de um dos movimentos mais relevantes da transição energética no Brasil. Muito além da produção de açúcar e etanol, essas unidades industriais estão se consolidando como polos de energia limpa e inovação no interior do país.
Esse protagonismo reflete o peso do Brasil no cenário global de bioenergia. Segundo a publicação Perspectivas para o biogás e o biometano, da Agência Internacional de Energia (IEA), as economias de mercados emergentes e em desenvolvimento respondem por 80% do potencial global de biogases, concentrado em países onde o setor agrícola desempenha um papel central. Índia, Brasil e China lideram esse cenário, com alto potencial de produção de biogás e biometano a partir de resíduos de culturas de cereais, de culturas de açúcar e de esterco, respectivamente — resultado direto da força de suas indústrias agrícolas de larga escala.
O gráfico a seguir, também elaborado pela IEA, ilustra de forma clara como o Brasil se destaca entre as principais economias no aproveitamento de resíduos agrícolas para a geração de bioenergia, com ênfase nos resíduos das culturas de açúcar — um reflexo direto da força do setor sucroenergético nacional.
À medida que as usinas adotam tecnologias de biodigestão e ampliam o aproveitamento dos resíduos agrícolas, o setor sucroenergético mostra como produtividade, inovação e regeneração podem caminhar juntas — transformando a bioenergia brasileira em referência global e contribuindo para a construção de uma matriz energética mais limpa e descentralizada.
Mas como, na prática, as usinas de cana-de-açúcar estão contribuindo para regenerar a matriz energética e estruturar um novo ciclo de desenvolvimento? É o que exploramos a seguir.
O papel das usinas no ciclo de regeneração energética e ambiental
As usinas de cana-de-açúcar estão deixando de ser apenas produtoras de açúcar e etanol para se tornarem verdadeiros polos de energia limpa e regeneração. Essa transformação passa, principalmente, pela adoção de tecnologias que permitem o aproveitamento energético dos resíduos agrícolas, antes vistos apenas como subprodutos do processo produtivo.
Entre esses resíduos, destacam-se a vinhaça e a torta de filtro, gerados em grande volume durante a fabricação de etanol e açúcar. Com o uso de biodigestores, esses materiais passam por um processo de decomposição anaeróbica, no qual são convertidos em biogás. Após a purificação do biogás, obtém-se o biometano, um combustível renovável que possui as mesmas características do gás natural fóssil e pode ser utilizado para substituir o diesel e outros combustíveis fósseis em diversas aplicações.
O biometano produzido nas usinas pode ser utilizado de forma estratégica:
- Na frota agrícola e industrial: reduz o consumo de diesel e as emissões associadas ao transporte.
- Na geração elétrica: como alternativa às fontes fósseis e para diversificar a matriz energética das operações.
- Substituindo ou em conjunto ao gás natural: ao ampliar o acesso a um combustível renovável e levando o gás a regiões ainda pouco atendidas.
Esse ciclo positivo transforma o que antes era resíduo em ativo energético e econômico, contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e fortalece a competitividade do setor. Além disso, o digestato gerado no processo de biodigestão anaeróbica pode ser utilizado como fertilizante biológico, agregando valor à cadeia produtiva e contribuindo para a regeneração do solo.
Com essas iniciativas, as usinas não produzem apenas alimentos e energia, mas, sobretudo, ajudam a estruturar um modelo de produção mais eficiente, sustentável e alinhado aos compromissos globais de descarbonização.
O potencial do biometano no setor sucroenergético
O setor sucroenergético brasileiro já demonstra, na prática, o tamanho da oportunidade quando se trata de transformar resíduos agrícolas em energia renovável. Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) mostram que, na safra 2024/2025, as usinas brasileiras produziram 34,96 bilhões de litros de etanol, sendo a maior parte desse volume derivada da cana-de-açúcar.
O potencial energético dessa cadeia, no entanto, vai muito além do que chega às bombas de combustível. Resíduos como a vinhaça e a torta de filtro, antes vistos apenas como subprodutos, hoje impulsionam o crescimento do biometano.
Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com o CIBiogás, o setor sucroenergético brasileiro possui capacidade técnica para gerar até 6,1 bilhões de metros cúbicos de biometano por ano, o que equivale a aproximadamente 10% do consumo total de gás natural do país.
Apesar desse potencial expressivo, a produção atual representa apenas uma fração desse volume. O setor, no entanto, já vive um ciclo de expansão acelerada, impulsionado por novos projetos, avanços tecnológicos e parcerias entre o setor produtivo e as distribuidoras de gás.
À medida que as usinas avançam na geração de biometano, o Brasil transforma um passivo como os resíduos agrícolas em um ativo energético e econômico estratégico, capaz de reduzir emissões, interiorizar o fornecimento de gás e impulsionar o desenvolvimento das regiões produtoras.
Interiorização do gás e regeneração econômica dos territórios
O avanço do biometano nas usinas de cana-de-açúcar não representa apenas uma alternativa energética. É também uma forma de reorganizar o acesso ao gás no Brasil, levando esse recurso estratégico a regiões do interior tradicionalmente ligadas à produção agrícola, mas ainda distantes da infraestrutura de distribuição.
Ao transformar os resíduos da cana em biometano, as usinas viabilizam o fornecimento descentralizado de gás natural renovável — uma energia limpa, produzida no próprio território e capaz de atender indústrias, propriedades rurais e o transporte local. Esse movimento contribui para reduzir a dependência de combustíveis transportados por longas distâncias, fortalecer as economias regionais e interiorizar o acesso a soluções de baixo carbono.
O biometano consolida-se como um vetor de regeneração territorial, ao aproximar o desenvolvimento energético das regiões que sustentam parte expressiva da produção nacional e que agora também podem participar ativamente da transição para uma matriz mais limpa e distribuída.
Esse movimento mostra que o impacto do biometano vai além da energia e da infraestrutura. Ele se conecta diretamente com o desafio central de produzir mais, regenerar o que já existe e garantir competitividade ao setor.
Regeneração e produtividade podem, sim, caminhar juntas
O protagonismo das usinas de cana-de-açúcar na produção de biometano mostra que o Brasil tem, no próprio território, soluções concretas para avançar na transição energética e na regeneração do planeta. É a combinação de agroindústria, tecnologia e inovação que transforma resíduos agrícolas em energia limpa, reduz emissões e fortalece o país como referência global em bioenergia.
Num mundo em busca de soluções sustentáveis, o Brasil tem a oportunidade — e a responsabilidade — de mostrar que regeneração e produtividade podem, sim, andar juntas.
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