
Energia regenerativa no Brasil: conceito, benefícios e potencial para transformar o setor
Energia renovável é aquela proveniente de fontes naturais que se regeneram continuamente, como a solar, a eólica, a hídrica e a biomassa. Essas fontes são essenciais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa, e por isso ocupam papel central na transição energética em todo o mundo.
No Brasil, o avanço das energias renováveis já impulsiona a modernização da matriz energética e contribui para metas de descarbonização. Mas isso não significa, necessariamente, regenerar os territórios ou restaurar os ciclos ambientais.
Mesmo as fontes consideradas limpas — como solar e eólica — enfrentam desafios técnicos, operacionais e ambientais. Estão sujeitas à variabilidade climática, exigem grandes extensões de terra e, em muitos casos, utilizam materiais de alta pegada de carbono em sua instalação e manutenção. No caso da biomassa, o impacto ambiental depende do tipo de resíduo utilizado, da origem da matéria-prima e do destino dado aos subprodutos.
É justamente nesse ponto que o conceito de energia regenerativa ganha relevância. Ao ir além da mitigação de impactos, ele propõe uma abordagem ativa de restauração: transformar passivos ambientais em ativos energéticos, regenerar o solo e gerar valor em múltiplas dimensões.
O que diferencia energia regenerativa das fontes renováveis?
A principal diferença entre energia renovável e regenerativa está na abordagem. Enquanto a energia renovável visa reduzir os impactos ambientais ao utilizar fontes que se renovam naturalmente, a energia regenerativa vai além: ela busca restaurar e reequilibrar os ecossistemas afetados pelas atividades humanas.
Projetos de energia regenerativa não apenas evitam emissões, mas recuperam solos, promovem biodiversidade, reduzem a dependência de insumos químicos e fortalecem cadeias produtivas locais. Um exemplo são sistemas agrovoltaicos que combinam produção de energia solar com cultivo de vegetação sob os painéis, melhorando a qualidade do solo e reduzindo a erosão.
Essa abordagem também se manifesta em soluções com biodigestores, que transformam resíduos orgânicos em biogás ou biometano e geram, como subproduto, fertilizantes biológicos que contribuem para a regeneração do solo. Nesses casos, há ganhos ambientais, energéticos e econômicos.
Como a energia regenerativa transforma cadeias produtivas e territórios
A adoção de energia regenerativa tem potencial transformador em diferentes setores produtivos, especialmente no Brasil, onde há ampla disponibilidade de biomassa e resíduos orgânicos.
No setor sucroenergético, por exemplo, resíduos como vinhaça e torta de filtro deixaram de ser subprodutos de difícil destinação para se tornarem matéria-prima estratégica para a produção de biogás e biometano. O uso de biodigestores permite que as usinas reduzam emissões, substituam o uso de combustíveis fósseis, ampliem a segurança energética e ainda utilizem o digestato como biofertilizante, enriquecendo o solo. Além de possibilitar a produção de etanol de baixo carbono, por exemplo, sendo um ativo estratégico para a produção do biocombustível.
Na cadeia do óleo de palma, da mandioca e na agroindústria de modo geral, soluções regenerativas permitem o aproveitamento de efluentes líquidos e resíduos sólidos, que antes representavam passivos ambientais. Essas soluções contribuem para a circularidade dos sistemas produtivos e para o fortalecimento das economias regionais.
Na gestão de resíduos sólidos urbanos, a fração orgânica dos resíduos coletados nos municípios pode ser tratada por meio da biodigestão anaeróbica, reduzindo a necessidade de aterros sanitários, evitando emissões de metano e gerando energia limpa. Essa abordagem permite que cidades avancem em políticas de economia circular e promovam benefícios ambientais e sociais.
A atuação da Sebigas Cótica em diferentes frentes mostra como o conceito de energia regenerativa pode ser incorporado de forma prática, com retorno ambiental e financeiro, impulsionando cadeias produtivas de baixo carbono e contribuindo para a transição energética nacional.
Vamos agora explorar um dos exemplos mais promissores dessa abordagem regenerativa: o biometano.
Biometano como vetor estratégico de energia regenerativa
A energia regenerativa só se sustenta quando tecnologias e práticas são capazes de, simultaneamente, gerar energia limpa, restaurar ambientes e fortalecer cadeias produtivas locais. O biometano se destaca justamente por atender a essas três dimensões. Exatamente por isso, desponta como uma das soluções mais concretas e escaláveis para tornar real a transição para uma matriz energética regenerativa no Brasil.
Produzido a partir da purificação do biogás é gerado na decomposição de resíduos orgânicos, o biometano tem origem em um carbono que já circula naturalmente no ambiente: o chamado carbono biogênico. Isso significa que sua queima ou uso energético não adiciona CO₂ novo à atmosfera, ao contrário dos combustíveis fósseis. Mais do que reduzir emissões, ele interrompe ciclos de descarte de resíduos, transforma passivos ambientais em valor econômico e permite a interiorização da energia.
Além disso, o biometano está profundamente conectado à realidade agrícola e industrial do Brasil. Ele pode ser produzido a partir de subprodutos como:
- Vinhaça e torta de filtro (na cadeia da cana-de-açúcar),
- Resíduos orgânicos da produção de laticínios, carnes, ovos e biodiesel,
- Culturas energéticas, como capim elefante, sorgo, mandioca e o óleo de palma
- Resíduos sólidos urbanos com alta carga orgânica,
Essas matérias-primas, antes vistas como rejeitos, tornam-se insumos energéticos renováveis que alimentam sistemas produtivos locais e reduzem a dependência de combustíveis fósseis.
Segundo o estudo Panorama do Biometano – Setor Sucroenergético, elaborado pela EPE em parceria com o CIBiogás, o potencial técnico de produção de biometano no setor da cana-de-açúcar é de até 6,1 bilhões de m³ por ano, o que representa cerca de 10% do consumo nacional de gás natural. Essa produção, além de estratégica, pode ser feita em unidades distribuídas, próximas à origem dos resíduos, ampliando a segurança energética e criando novos polos de geração de valor.
Casos concretos e oportunidades da energia regenerativa com biometano
A lógica regenerativa já está sendo aplicada em escala em diferentes setores da economia brasileira, com destaque para o setor sucroenergético. Hoje, a principal frente de desenvolvimento de biometano no país está nas usinas de cana-de-açúcar, que historicamente focadas na produção de açúcar e etanol, passaram a incorporar o biometano como parte estratégica de suas operações. O resultado é um modelo que une energia limpa, reaproveitamento de resíduos e fortalecimento da economia regional.
Um exemplo emblemático é o projeto da São Martinho, que está construindo sua primeira planta de biometano na unidade Santa Cruz, em Américo Brasiliense (SP). Com tecnologia nacional desenvolvida pela Sebigas Cótica, a planta usará 100% da vinhaça gerada localmente para produzir cerca de 15 milhões de metros cúbicos de biometano por safra.
A iniciativa marca a entrada da companhia no mercado de gás natural renovável e reforça seu posicionamento na transição energética, com potencial para evitar a emissão de até 32 mil toneladas de gases de efeito estufa por safra. Além disso, o digestato gerado no processo segue sendo utilizado como fertilizante nos canaviais, em um modelo que alia inovação, economia circular e autonomia comercial.
Na agroindústria da mandioca, o uso de efluentes líquidos com alta carga orgânica — que antes demandavam tratamento caro e complexo — também tem sido convertido em solução energética. Além de reduzir o passivo ambiental, o biometano gerado permite às indústrias baixar seus custos com energia e estabilizar suas operações em regiões ainda desatendidas por redes de gás ou eletricidade.
Outro segmento com grande potencial é o dos resíduos sólidos urbanos (RSU). Municípios e operadores de resíduos começam a viabilizar o uso da fração orgânica como fonte de energia, aproveitando o biogás gerado em aterros sanitários ou centrais mecanizadas de triagem. Ao transformar lixo orgânico em combustível, esses projetos atacam diretamente dois problemas estruturais: a geração de metano em aterros e o alto custo com destinação final.
Esses exemplos apontam para uma tendência: quanto mais próximo o biometano estiver da origem do resíduo, maior será sua capacidade de promover ciclos regenerativos. Isso inclui:
- Redução de emissões e captura de valor climático (CBIOs, créditos de carbono);
- Geração de energia renovável em regiões fora dos grandes centros;
- Fortalecimento de cadeias produtivas locais e geração de empregos;
- Substituição direta do diesel em frotas industriais e agrícolas.
A energia regenerativa, portanto, deixa de ser conceito para se tornar prática. E o biometano se consolida como uma das formas mais eficientes, versáteis e economicamente viáveis de concretizar essa transição — com impactos positivos não apenas para o meio ambiente, mas para a produtividade e resiliência das empresas e municípios.
Energia regenerativa é caminho estratégico — e possível
A transição energética brasileira já não depende apenas da substituição de fontes fósseis por alternativas renováveis. Ela exige soluções integradas, capazes de regenerar ecossistemas, fortalecer cadeias produtivas e garantir segurança energética com eficiência operacional.
Nesse contexto, o biometano desponta como um vetor concreto da regeneração — não apenas por suas credenciais ambientais, mas pela capacidade de transformar resíduos em energia, gerar valor local e ampliar a competitividade de setores essenciais da economia brasileira.
A Sebigas Cótica atua exatamente nessa interseção entre tecnologia, engenharia e realidade produtiva. Com expertise em biodigestão anaeróbica e soluções em bioenergia de alta performance, apoiamos usinas, agroindústrias e municípios a estruturar operações que aliam sustentabilidade, retorno financeiro e protagonismo energético.
Se a sua operação busca uma alternativa concreta para avançar em descarbonização, eficiência entre em contato conosco!