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O que é descarbonização? Entenda o conceito e sua importância

O desafio global da descarbonização deixou de ser uma pauta restrita aos fóruns internacionais e passou a orientar, na prática, investimentos, políticas públicas e decisões estratégicas de empresas no Brasil e no mundo. Reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO₂), é hoje um dos principais caminhos para conter o avanço das mudanças climáticas e garantir competitividade econômica em mercados cada vez mais exigentes.

O Brasil ocupa uma posição relevante nesse cenário. Segundo o SEEG – Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, o país emitiu cerca de 2,3 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2022, com destaque para os setores de energia, agropecuária e mudanças no uso da terra. Para atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris, o país terá que avançar de forma consistente em fontes renováveis, bioenergia e economia circular.

É nesse contexto que o biometano, um combustível renovável produzido a partir de resíduos agrícolas e orgânicos, ganha protagonismo. Por ser uma fonte de energia de baixo carbono e baseada em carbono biogênico, o biometano se conecta diretamente às estratégias de descarbonização do setor energético e agroindustrial brasileiro.

Nos próximos tópicos, explicamos de forma objetiva o conceito de descarbonização, sua relevância para o Brasil e como o biometano se insere nesse movimento global em direção a uma matriz energética mais limpa e eficiente. Vamos lá?

O que exatamente significa descarbonização?

Descarbonização é o processo de redução das emissões líquidas de carbono, principalmente o dióxido de carbono (CO₂), associadas às atividades humanas. Isso envolve substituir fontes de energia fósseis por fontes de energia renováveis, otimizar processos produtivos, reduzir o desperdício e, sempre que possível, capturar e armazenar o carbono já emitido.

O conceito está diretamente vinculado ao compromisso global de conter o aquecimento do planeta, estabelecido no Acordo de Paris, que determina o limite de 1,5 °C de aumento da temperatura média global até o final do século. Para atingir esse objetivo, governos, empresas e setores produtivos precisam reduzir drasticamente as emissões, ao ponto de alcançar a chamada neutralidade de carbono ou net zero, quando as emissões geradas são equilibradas pelas emissões evitadas ou capturadas.

Na prática, descarbonizar não significa eliminar todo o carbono da atividade econômica, mas sim reduzir ao máximo as emissões de carbono de origem fóssil e compensar as inevitáveis. Nesse contexto, o conceito de carbono biogênico, aquele que já faz parte do ciclo natural do carbono, torna-se central.

Fontes de energia como o biometano, derivadas de resíduos agrícolas ou orgânicos, utilizam carbono que já circula naturalmente no ambiente. Por isso, sua queima ou utilização não adiciona carbono extra à atmosfera, ao contrário do que ocorre com combustíveis fósseis. Essa característica faz do biometano uma das ferramentas mais relevantes para a descarbonização, especialmente em setores onde substituir o uso de combustíveis líquidos ou gasosos ainda é um desafio técnico ou econômico.

Por que descarbonizar é prioridade para a competitividade e segurança energética do Brasil

No contexto brasileiro, a descarbonização se impõe como uma medida estratégica para reforçar a segurança energética nacional e tornar a economia menos vulnerável aos combustíveis fósseis. Embora o país conte com uma matriz energética predominantemente renovável, a dependência do diesel e do gás natural — ambos com ampla participação no uso industrial e agrícola — ainda representa um ponto de fragilidade.

Segundo o Balanço Energético Nacional 2023, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os derivados de petróleo ainda respondem por mais de 46% da oferta interna de energia no Brasil. Essa realidade evidencia o peso dos combustíveis fósseis na matriz e, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade do país frente às oscilações internacionais de preço e à instabilidade cambial.

Além disso, a infraestrutura de gás natural continua concentrada nas regiões metropolitanas e litorâneas, enquanto áreas estratégicas do interior, como as regiões canavieiras do Centro-Sul, seguem com acesso limitado ao insumo. Esse cenário impacta diretamente a competitividade das usinas de cana-de-açúcar e restringe o potencial de interiorização do desenvolvimento energético.

Nesse contexto, avançar na descarbonização, principalmente com o uso de fontes renováveis como o biometano, representa ganhos concretos. Além de reduzir as emissões, o biometano contribui para a diversificação da matriz, amplia a segurança energética e fortalece o setor agroindustrial em um mercado global cada vez mais competitivo.

Descarbonizar, portanto, vai além de atender compromissos climáticos. É uma estratégia fundamental para reduzir riscos, aumentar a autonomia e consolidar o protagonismo do Brasil na transição energética.

4 setores que impulsionam a descarbonização no Brasil

A redução das emissões de carbono e a construção de uma economia de baixo carbono dependem de ações concretas em setores estratégicos da economia. No Brasil, a descarbonização avança por meio de soluções ligadas à matriz energética, ao transporte, à agroindústria e à gestão de resíduos. Cada um desses setores possui papel fundamental e interdependente:

1. Matriz elétrica e energética

O Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com predominância de fontes hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa. Mesmo assim, ampliar a participação de fontes renováveis na matriz energética total — que inclui transporte e indústria — ainda é um dos principais desafios para reduzir as emissões.

2. Transporte e mobilidade

O transporte é responsável por uma parcela relevante das emissões globais de CO₂, especialmente pelo uso de combustíveis fósseis como diesel e gasolina. No Brasil, biocombustíveis como o etanol e, cada vez mais, o biometano, ganham protagonismo como alternativas concretas para a descarbonização da mobilidade, sobretudo no setor agrícola e no transporte de cargas.

3. Agroindústria e bioenergia

O setor agroindustrial brasileiro tem potencial único para contribuir com a descarbonização, tanto pela substituição de combustíveis fósseis quanto pelo reaproveitamento de resíduos. A produção de bioenergia, o uso de resíduos agrícolas para geração de biogás e biometano e o reaproveitamento energético da vinhaça e da torta de filtro são exemplos de soluções que reduzem emissões e geram eficiência.

4. Gestão de resíduos e economia circular

A destinação inadequada de resíduos orgânicos e industriais é fonte significativa de emissões de metano, um gás com potencial de aquecimento global até 28 vezes superior ao do CO₂. A produção de biogás e biometano a partir desses resíduos representa uma solução prática para reduzir emissões, gerar energia limpa e integrar o conceito de economia circular à descarbonização.

O papel estratégico do biometano na descarbonização do Brasil

Entre as alternativas disponíveis para acelerar a descarbonização da matriz energética e do setor produtivo, o biometano se destaca como uma solução prática, escalável e diretamente conectada à realidade agrícola e industrial do Brasil.

Produzido a partir da purificação do biogás, o biometano possui composição química equivalente ao gás natural de origem fóssil, mas com uma diferença fundamental: sua origem está no carbono biogênico, aquele que já faz parte do ciclo natural da atmosfera. Isso significa que sua queima ou utilização não adiciona carbono novo à atmosfera, ao contrário dos combustíveis fósseis.

Além disso, ao utilizar resíduos orgânicos como vinhaça, torta de filtro, resíduos agroindustriais e resíduos sólidos urbanos como matéria-prima, o biometano transforma passivos ambientais em ativos energéticos. Dessa forma, contribui duplamente para a descarbonização: reduz as emissões associadas ao descarte inadequado de resíduos e substitui fontes fósseis na matriz energética.

Segundo nota técnica publicada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em 2024, o biometano apresenta uma intensidade de carbono de apenas 8,35 gCO₂eq/MJ, considerando o ciclo completo do combustível — da produção ao uso final. Esse valor é significativamente inferior ao de outras fontes, como a eletricidade (que pode variar entre 10 e 21 gCO₂eq/MJ, a depender da origem da geração) e da gasolina, cujo valor gira em torno de 89 gCO₂eq/MJ.

O uso do biometano contribui diretamente para:

  • Reduzir emissões de gases de efeito estufa com desempenho superior até mesmo à eletricidade, em certos contextos de mobilidade;
  • Ampliar o acesso ao gás natural renovável em regiões do interior, onde a infraestrutura convencional é limitada;
  • Viabilizar a participação no mercado de créditos de descarbonização, como o RenovaBio, com a geração de CBIOs;
  • Reforçar a interiorização do fornecimento de energia e o desenvolvimento de cadeias agroindustriais de baixo impacto climático.

O biometano gera eficiência operacional, segurança energética e competitividade, consolidando-se como um dos caminhos mais concretos e acessíveis para o Brasil avançar de forma estruturada em direção às metas de descarbonização.

Exemplos concretos de como o biometano já impulsiona a descarbonização

Brasil: o setor sucroenergético na dianteira

No Brasil, o setor sucroenergético lidera a produção de biometano a partir de resíduos da cana-de-açúcar, como a vinhaça e a torta de filtro. Um dos avanços mais significativos é protagonizado pela São Martinho, que anunciou a construção de sua primeira planta de biometano na unidade Santa Cruz, em Américo Brasiliense (SP). Com investimento de R$ 250 milhões, o projeto terá capacidade média de 63 mil metros cúbicos de biometano por dia durante a safra, utilizando 100% da vinhaça gerada localmente.

O projeto é fruto de uma parceria com a Sebigas Cótica, que forneceu a tecnologia de biodigestão anaeróbia CLBR™ (Covered Lagoon Bio Reactor) , desenvolvida no Brasil, e segue acompanhando a execução até a entrada em operação, prevista para o segundo semestre de 2025. Ao substituir o gás natural fóssil, o biometano da São Martinho tem potencial de evitar a emissão de até 32 mil toneladas de gases de efeito estufa por safra — o equivalente a 91 mil viagens de caminhão entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Além de reforçar o posicionamento da empresa na transição energética e aumentar a rentabilidade por hectare cultivado, o modelo de negócio adotado garante autonomia total: a São Martinho será proprietária de 100% da molécula de biometano, com liberdade para comercialização, injeção em rede de distribuição ou uso interno, inclusive na substituição do diesel em sua frota. O processo ainda mantém o digestato como adubo nos canaviais, fechando o ciclo de economia circular.

Segundo o Panorama do Biogás 2024, o Brasil conta atualmente com mais de 1.600 plantas de biogás, das quais uma parcela crescente é destinada à produção de biometano, especialmente em regiões canavieiras do estado de São Paulo, onde há concentração de usinas e infraestrutura favorável.

Além disso, distribuidoras estaduais de gás têm lançado chamadas públicas específicas para o biometano, como forma de ampliar o acesso ao gás renovável no interior e reduzir a dependência de fontes fósseis.

Mundo: biometano como política de Estado

Em países da União Europeia, o biometano já faz parte das estratégias nacionais de descarbonização e segurança energética. A França, por exemplo, estabeleceu metas ambiciosas de expansão do biometano, com o objetivo de que ele represente pelo menos 20% do consumo de gás do país até 2030.

Na Itália, o setor agroindustrial é um dos principais fornecedores de biometano, com forte incentivo para projetos que transformam resíduos agrícolas em energia limpa.

Nos Estados Unidos, o biometano (chamado de RNG – Renewable Natural Gas) é utilizado para abastecimento veicular, geração elétrica e injeção na rede, com políticas de crédito de carbono e isenções fiscais que incentivam a expansão do setor.

Esses casos mostram que o biometano deixou de ser uma solução experimental e já ocupa posição de destaque nas agendas de descarbonização de países que buscam reduzir emissões e reforçar sua autonomia energética.

Desafios e barreiras para o avanço do biometano na descarbonização

Apesar do potencial reconhecido e dos avanços já em curso, o biometano ainda enfrenta desafios que limitam sua expansão em larga escala, tanto no Brasil quanto em outros países. Superar essas barreiras é fundamental para que o combustível possa atingir todo o seu potencial como vetor estratégico de descarbonização.

1. Custos iniciais de implantação e escala

A produção de biometano exige investimentos significativos em infraestrutura, como biodigestores, sistemas de purificação e unidades de compressão ou liquefação. Embora o retorno seja atraente no médio e longo prazo, os custos iniciais ainda são um entrave, especialmente para produtores de menor porte ou regiões com menor acesso a crédito e financiamento.

2. Infraestrutura de distribuição e acesso ao mercado

A infraestrutura de transporte e distribuição de biometano, especialmente no interior do Brasil, ainda é limitada. A injeção na rede de gás natural ou o transporte por caminhões requer investimentos em logística e parcerias com distribuidoras, o que pode restringir o alcance do combustível em algumas regiões.

3. Complexidade regulatória e burocracia

Apesar de políticas como o RenovaBio e o REIDI, o ambiente regulatório ainda apresenta burocracias e incertezas, o que dificulta o avanço de novos projetos. Além disso, as diferenças entre legislações estaduais e municipais podem gerar insegurança jurídica e atrasos na implementação de iniciativas.

4. Competição com outras fontes de energia

O biometano precisa disputar espaço com outras fontes renováveis, como o biogás usado diretamente para geração elétrica, o etanol e o biodiesel. Em alguns casos, as condições locais ou o custo-benefício de alternativas podem impactar a atratividade do biometano.

5. Necessidade de conscientização e qualificação técnica

Ainda há lacunas de conhecimento técnico e de entendimento estratégico sobre o biometano em parte do setor produtivo e do poder público. Programas de capacitação, disseminação de boas práticas e fomento à inovação são fundamentais para superar essas barreiras.

Descarbonização e biometano: um caminho estratégico para o Brasil

A descarbonização da economia e da matriz energética não é uma escolha opcional. É uma exigência de mercado, uma demanda social e uma oportunidade concreta de modernizar o setor agroindustrial, gerar eficiência e fortalecer a competitividade do Brasil no cenário global.

Nesse contexto, o biometano se consolida como uma das soluções mais viáveis e alinhadas à realidade brasileira. Sua produção a partir de resíduos agrícolas e orgânicos, sua capacidade de reduzir emissões e sua contribuição para a segurança energética colocam o biometano no centro das estratégias de descarbonização do país.

Usinas de cana-de-açúcar, agroindústrias, empresas de transporte e o setor energético já reconhecem esse movimento e começam a transformar potencial em resultado concreto.

A Sebigas Cótica apoia o setor produtivo a transformar o biometano em uma ferramenta real de descarbonização, eficiência e competitividade. Conheça nossas soluções e descubra como podemos atuar junto à sua operação para viabilizar a transição energética e acelerar o protagonismo do Brasil na bioenergia.